E agora?
Agora julgamos o outro. Como se atreve a mentir? Enganar-me! Mas eu também o fiz... "Não, eu tinha uma razão. Eu tinha medo de ser julgada, afastada. Ficar sozinha." Razões, desculpas. Não têm os outros razões também? Hipócrisia, o maior defeito humano.
Um mundo de ficção. Histórias de reis, acção, violência, drama, romance, comédia... Personagens irreais que nos fazem acreditar na sua existência. Acreditamos porque gostamos da ilusão. O ser humano gosta de ser enganado; a maior prova disso é o fascínio pela magia. No entanto, não gostamos de descobrir que estamos a ser enganados. Ironia da vida.
Hoje, falo com um mentiroso... Não mentiu no seu sentido puro (na sua mente é capaz de ser tudo real), mas sinto-me enganada e não gosto da sensação. Alguma vez lhe menti? Estou demasiado enterrada na mentira para o distinguir - as nossas vidas tornaram-se uma mentira. Como o posso culpar, então? Não posso... Mas quero! Quero afastá-lo, negar tudo e não perdoar! Serei uma má pessoa?
Mais uma vez pergunto, e agora?
Não posso julgar, entendo e até fiz o mesmo. Afastar-me não iria contra o que eu defendo? Já o fiz antes, poderia fazê-lo outra vez... Mas não seria correcto! Mas ficar... não... não aguento. E agora?!
Seria mais fácil ele decidir afastar-se. Cada um seguia o seu caminho, mas a decisão teria sido dele! Ninguém saía magoado.
E agora?...
Agora alimento a fantasia... Duma maneira distante e fria, talvez? Minto, uma vez mais. Para fugir da mentira dele, tenho de mentir. É assim que a internet funciona. Quem sou eu para não obedecer às suas regras e tentar fugir da sua ficção? Não me vou afastar, vou desfrutar o espectáculo. Continuar o teatro, escrever o romance. Mentir com prazer, gozar com a sua mentira. Sou má? Talvez, mas muito mais divertido do que tentar ser boa, don't you agree?