Saturday, May 18, 2013

Inverno primaveril

A qualidade do frio é congelar o ser humano, obrigá-lo a parar. Hoje falhou a sua tarefa. Este vendaval parece derrotar tudo excepto o que deve: os dedos. Com o corpo imóvel, cada imbecil sente-se obrigado a utilizar o que lhes resta, e escrevem. O inverno é o jardim da imbecilidade literária.
Claramente, sou imbecil. Obviamente. Nitidamente. Imbecil. Está frio. Não me estou a desculpar... Ou melhor, estou, mas não sou igual aos outros. Eu sou um imbecil diferente. Eu sou Imbecil (maiúsculo! grande!), sou a Imbecilidade Divina! Convidei Adão para visitar o meu jardim, Eva ficou em casa. A Salomé trouxe chá. O João foi baptizar mais um imbecil que certamente virá escritor. Lanchar, com Salomé e Adão, ao som do vento. Arrependi-me.
Do jardim. De obedecer ao frio. Judas avisou-me. Judas é sábio. Judas...
Judas explicou-me como era o jardim. Foge, gritou. O frio não nos abandona neste jardim. O frio persegue-nos e derruba-nos, até sermos vento. O jardim tornou-me imbecil (ou foi o chá?). E aqui me encontro, sentada, entre Adão e Salomé. Judas avisou-me. Judas é sincero.
Judas esteve aqui, noutro tempo. O maior amigo que poderás ter é Judas. Abraçou-me no meio do vendaval. Mostrou-me o sol. A maçã foi mais sedutora, trouxe-me a este jardim. Judas não escreve, vive. O meu maior desejo é ser como Judas – não ser um mero apóstolo, uma personagem confusa, um escritor imbecil. Quero ser uma alma. Ser realmente alguém. Não ter frio.
Os dedos deveriam ser os primeiros a congelar, só assim o Homem ficaria eternamente calado. O inverno é o jardim da imbecilidade literária. Hoje não é inverno, simplesmente está frio. Este congelou os imbecis. (principalmente os cérebros. deixaram de respirar. tremes. tremes. tremes... está frio.)
Não gosto de maçãs. Uma cereja desfruta o calor dos meus lábios.